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Mortes no trânsito têm alta no Brasil em 2024 e dados completos devem piorar cenário

Os números reforçam a urgência de políticas públicas mais consistentes, que combinem educação no trânsito, fiscalização rigorosa e melhoria na infraestrutura viária

Por Portal do Trânsito

O Brasil registrou, em 2024, um aumento de 8,94% nas mortes no trânsito em comparação com o ano anterior, segundo dados do Mapa da Segurança Pública 2025 (ano-base 2024), divulgado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. O levantamento aponta que todas as regiões do país, com exceção de alguns estados isolados, tiveram alta no número de vítimas fatais.

Apesar da relevância dos dados, o Portal do Trânsito alerta: os números ainda são parciais. Isso porque não incluem os registros da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Além disso, o histórico mostra que as atualizações posteriores do Ministério da Saúde costumam elevar o total de óbitos. Ou seja, a tendência é que o número real de mortes no trânsito em 2024 seja ainda maior.

Tendência de alta interrompe estabilidade

O crescimento registrado em 2024 interrompeu a breve estabilidade observada no ano anterior. Em 2021, o Brasil contabilizou 23.003 mortes no trânsito. Já em 2022, houve alta de 5,58% (24.286 vítimas). Em 2023, ocorreu uma leve queda de 1,21%, totalizando 23.992 mortes. Já em 2024, o país voltou a registrar aumento expressivo.

A taxa nacional de mortalidade no trânsito subiu de 11,33 óbitos por 100 mil habitantes, em 2023, para 12,30 em 2024.

Diferenças regionais

A Região Norte liderou o crescimento proporcional, com alta de 24,62% (de 2.226 para 2.774 mortes). No Nordeste, o avanço foi de 11,21% (de 7.157 para 7.959). O Sul teve elevação de 6,15% (de 2.912 para 3.091), enquanto o Sudeste registrou aumento de 5,20% — mas se manteve como a região com mais mortes absolutas.

Entre os estados, os maiores aumentos proporcionais ocorreram no Amazonas (+47,46%), Rondônia (+41,02%) e Acre (+39,78%). As quedas mais expressivas foram em Minas Gerais (-7,94%), Distrito Federal (-5,10%) e Bahia (-4,24%).

Quando se observa a taxa proporcional à população, Tocantins lidera com 39,37 mortes por 100 mil habitantes, seguido por Mato Grosso (26,07) e Espírito Santo (23,77). As menores taxas foram registradas em Amazonas (6,10), Bahia (6,23) e Piauí (7,11).

Municípios mais afetados

No ranking municipal, Rio de Janeiro (RJ) aparece em primeiro lugar com 706 mortes no trânsito em 2024, seguido por São Paulo (SP) (657), Brasília (DF) (242), Recife (PE) (179) e Fortaleza (CE) (176).

Perfil das vítimas

O levantamento confirma que homens continuam sendo a maioria absoluta das vítimas fatais, representando 75,99% dos casos (19.861). As mulheres correspondem a 21,74% (5.682 casos) e 2,28% dos registros não tiveram o sexo identificado.

Um dado que chama atenção vem do Espírito Santo: o número de mulheres mortas no trânsito saltou de 170, em 2023, para 804, em 2024 — um aumento de 372,94%.

Especialistas alertam para cenário ainda mais crítico

Para especialistas, os números reforçam a urgência de políticas públicas mais consistentes, que combinem educação no trânsito, fiscalização rigorosa e melhoria na infraestrutura viária.

O Ministério da Justiça destaca que a coleta e padronização das informações, feita por meio do Sinesp Validador de Dados Estatísticos, é essencial para que gestores e sociedade civil possam acompanhar a evolução dos indicadores e cobrar resultados.

O especialista em trânsito Celso Mariano avalia que o aumento de mortes é preocupante e que as estatísticas podem piorar se a proposta do Ministério dos Transportes, que pretende tornar facultativo o curso em autoescola para a primeira habilitação, for adiante.

“Os números mostram que já temos um enorme desafio para reduzir a violência no trânsito. Se enfraquecermos a formação de condutores, esse desafio pode se tornar ainda maior. A preparação teórica e prática nas autoescolas não é um luxo, é um investimento em segurança e em vidas preservadas”, afirma.

Embora os dados de 2024 já sejam preocupantes, a perspectiva é de que, com as atualizações pendentes, o retrato final seja ainda mais grave — o que coloca a redução das mortes no trânsito como prioridade imediata para os próximos anos.

Foto: Romaset para Depositphotos