Governo quer permitir renovação automática da CNH para motoristas com histórico limpo a partir de 2026. Entenda o que muda e os impactos no trânsito
Por Portal do Trânsito
O processo de obtenção e manutenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) continua no centro das discussões sobre mobilidade e segurança viária no Brasil. Depois de anunciar a proposta que torna facultativa a formação em autoescolas para novos condutores — medida que ainda gera forte repercussão no setor — o governo federal deu mais um passo ao detalhar sua intenção de mudar também as regras de renovação da habilitação.
Em entrevista ao Jornal da CBN, o ministro dos Transportes, Renan Filho, revelou que a equipe técnica trabalha em um modelo que permita a renovação automática da CNH para motoristas que mantiverem um histórico exemplar no trânsito. A proposta deve integrar o pacote de alterações previstas para entrar em vigor a partir de 2026.
Conforme o ministro, a ideia é simples: quem não comete infrações e demonstra comportamento seguro ao volante deveria enfrentar menos burocracia. Isso inclui a possibilidade de concluir o processo de renovação sem necessidade de etapas presenciais — e, em alguns casos, sem nenhuma etapa além da validação automática no sistema.
“O condutor que não sofrer pontos, que garantir uma presença no trânsito segura para ele, para outros veículos e para pedestres vai ter facilidade para renovar. Em alguns casos, inclusive, com renovação automática da carteira”, afirmou Renan Filho.
Pacote de mudanças amplia a flexibilização no processo de habilitação
A renovação automática não é a única novidade em preparação. O governo discute um conjunto mais amplo de alterações que visam, segundo Renan Filho, simplificar e baratear o acesso à habilitação no país. Entre elas, está a permissão para que candidatos realizem o exame prático em veículos automáticos, tendência já consolidada na indústria automobilística.
A adoção desse tipo de veículo no exame, de acordo com o ministro, ajudaria a reduzir custos operacionais e a complexidade da prova — especialmente para quem não precisa dominar a condução de um carro manual no dia a dia. No entanto, o próprio governo admite que haverá desafios na implementação.
“Obviamente, haverá uma transição, porque as autoescolas e os instrutores autônomos vão precisar também ofertar o serviço de formação no carro automático. Ou o cidadão vai precisar ser proprietário de um carro automático”, explicou.
Essa transição é um dos pontos sensíveis. Para especialistas, mudar o tipo de veículo usado no exame impacta diretamente a estrutura dos Centros de Formação de Condutores (CFCs), que terão de investir em novos modelos de frota e capacitação de instrutores. Já motoristas autônomos poderão enfrentar desafios financeiros caso precisem usar seu próprio veículo automático para realizar as provas.
Renovação automática: avanço ou risco para a segurança viária?
A possibilidade de automatizar a renovação da CNH levanta debates importantes entre entidades do setor. Alguns especialistas defendem que incentivar o bom comportamento no trânsito é positivo assim como pode reduzir a sobrecarga dos Detrans, que somam milhões de atendimentos anuais para fins de renovação.
No entanto, outros alertam que a renovação é também um momento crucial para atualizar condutores sobre regras e condições de saúde essenciais à condução segura. Uma mudança nesse processo, argumentam, não pode desconsiderar a necessidade de controle médico e de atualização de conhecimentos, sobretudo em um país com altos índices de acidentes de trânsito.
Embora Renan Filho tenha afirmado que o projeto possui amplo apoio — incluindo o de profissionais que atuam nas autoescolas — há dúvidas sobre a aderência dessa proposta dentro do próprio sistema nacional de trânsito, especialmente entre os órgãos técnicos e entidades que defendem legislação mais rigorosa.
“Há uma ampla maioria que apoia o projeto. Os instrutores que trabalham nas autoescolas apoiam. As pessoas sabem que a carteira de habilitação no Brasil ficou cara, ficou burocrática, difícil de tirar”, declarou o ministro.
A disputa política que deve vir pela frente
Renan Filho também afirmou estar preparado para defender as mudanças no Congresso Nacional e, se necessário, na Justiça. A fala indica que o governo antecipa resistências de setores que enxergam nas alterações um risco para a formação de condutores e para a segurança no trânsito.
A discussão promete se intensificar em 2026, quando o pacote completo deve ser apresentado. Entre os possíveis pontos de conflito estão:
- o impacto da renovação automática na vigilância sanitária do condutor;
- a adoção de veículos automáticos nos exames práticos;
- a possível perda de protagonismo das autoescolas na formação de novos motoristas;
Para o governo, porém, o objetivo é claro: simplificar processos, reduzir custos e facilitar a vida do cidadão. Para grande parte das entidades do trânsito, a preocupação é igualmente clara: assegurar que qualquer mudança não comprometa a qualidade da formação e renovação de condutores.
Foto: Assembleia Legislativa de Sergipe







