Com o crescimento das vendas de motocicletas, cresce também a preocupação em relação a acidentes envolvendo motociclistas
Por Portal do Trânsito
Nos últimos anos, o mercado de motocicletas experimentou um crescimento notável em todo o mundo, estabelecendo-se como um setor crucial para muitas nações. Esse boom reflete não apenas o aumento da demanda por mobilidade eficiente e acessível, mas também seu impacto positivo em vários aspectos socioeconômicos.
Esse mercado, assim como outros setores industriais, desempenha um papel fundamental na estrutura financeira. Da geração de empregos à contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB), as motocicletas se tornaram um motor de desenvolvimento. Empresas de fabricação, distribuidores, oficinas de reparo e outros serviços associados criam um ecossistema que energiza as economias locais e nacionais.
De fato, cada vez mais pessoas estão optando por esse tipo de veículo por vários motivos. Primeiro, as motocicletas oferecem uma solução econômica para o alto custo dos carros, tanto em termos de compra quanto de manutenção. Além disso, seu menor consumo de combustível as torna uma opção mais econômica em termos de operação diária. Outro fator importante é a agilidade e a facilidade de deslocamento em áreas urbanas congestionadas, o que reduz significativamente o tempo de viagem.
Nesse contexto, a Fenabrave, entidade que reúne as concessionárias de veículos no Brasil, revelou que o mercado brasileiro de motocicletas teve o melhor desempenho no primeiro semestre desde 2011. Durante os primeiros seis meses de 2024, foram registradas 932.940 unidades, um aumento de 19,6% em comparação com o mesmo período de 2023, quando foram registradas 779.719 motocicletas.
Enquanto isso, em junho, o segmento de motocicletas atingiu 165.855 registros, mostrando um aumento de 0,8% em relação a maio, quando 164.491 unidades foram registradas. Em relação a junho de 2023, quando foram vendidas 140.336 motocicletas, o aumento foi de 18,2%.
Diante desses números, o presidente da Fenabrave, Andreta Jr., disse:
“O volume só não foi maior devido a um dia útil a menos do que em maio. A demanda por motocicletas continua forte, especialmente para modelos de até 250 cc. Acredito que a necessidade de transporte econômico e o uso de veículos em serviços de entrega devem manter o mercado forte nos próximos meses”.
O bom momento do mercado de motocicletas no Brasil levou a Fenabrave a revisar para cima sua estimativa para o setor em 2024. Inicialmente, a entidade projetava o registro de 1.834.571 unidades para o ano, o que representaria um aumento de 16% em relação às 1.581.527 motocicletas vendidas em 2023. No entanto, considerando o forte desempenho do setor no primeiro semestre do ano, o órgão agora prevê um aumento de 20% em relação ao ano anterior, o que equivale a um total de 1.897.832 motocicletas.
Vale ressaltar que a Honda mantém sua liderança indiscutível, com 660.143 unidades registradas no primeiro semestre do ano. Esse desempenho lhe garante uma participação de mercado de 70,7%, consolidando sua posição dominante. A Yamaha, por sua vez, está em segundo lugar, com 163.483 motocicletas registradas, representando 14,5% do mercado. A Shineray fecha o top 3 com 30.479 unidades registradas e uma participação de mercado de 3,3%.
Quanto aos modelos mais populares, a Honda CG 160 se destaca com 224.381 unidades registradas, seguida pela Honda Biz com 152.059 unidades. A Honda Pop 110i e a Honda Bros 160 estão em terceiro e quarto lugares com 79.647 e 79.589 unidades, respectivamente. Além disso, há a Honda PCX, com 30.558 unidades, a Honda CB 300F Twister, com 28.052, e a Yamaha YBR 150 Factor com 25.715. A Mottu Sport 110i, a Yamaha FZ25 e a Honda XRE 300 Sahara também estão entre as mais registradas, com 24.438, 24.112 e 23.784 unidades, respectivamente.
No entanto, o recente relatório brasileiro de registros de motocicletas revelou alguns dados interessantes e algumas surpresas.
Junho foi um mês de mudanças significativas na lista das motocicletas mais vendidas, destacando a ascensão de alguns modelos e a consolidação de outros no mercado nacional.
Entre os novos produtos, destacaram-se a Bajaj Dominar 400 e a Triumph Scrambler 400. A Bajaj Dominar 400 consolidou o segundo lugar em sua categoria, com 709 unidades registradas, perdendo apenas para a Yamaha MT-03, que liderou com 926 unidades vendidas. Esse modelo conquistou a preferência do público brasileiro graças à sua agilidade e versatilidade, o que a torna ideal para uso urbano e rodoviário.
Por outro lado, a Triumph Scrambler 400 teve um aumento de 137 para 450 unidades registradas em apenas um mês. Esse modelo, com seu design clássico e toques modernos, chamou a atenção na categoria custom, fortalecendo a posição da marca britânica no mercado. Apesar desses movimentos, a Honda continua a liderar em várias categorias do mercado, embora a crescente concorrência no segmento Naked sugira que a Honda precisará inovar para manter sua posição dominante.
Esse cenário não apenas reflete uma mudança nas preferências dos consumidores brasileiros em relação às motocicletas intermediárias, mas também destaca a dinâmica competitiva entre os fabricantes no mercado doméstico. Nesse sentido, as estratégias de diversificação de produtos e a inovação do modelo de negócios são cruciais para capturar e manter a atenção dos consumidores. Além disso, a crescente oferta de empréstimos pessoais está influenciando essa tendência, pois facilita a aquisição de motocicletas ao oferecer opções de financiamento mais acessíveis para os compradores.
Motocicletas elétricas
A partir de julho de 2023, o Brasil implementou uma nova regulamentação que coloca as motocicletas elétricas em pé de igualdade com as motocicletas convencionais em termos de regulamentações de trânsito, incluindo requisitos de registro e permissão. Essa legislação, aprovada pelo Congresso Nacional, visa simplificar e melhorar a inspeção desses veículos, cuja popularidade cresceu significativamente nos últimos anos.
As motocicletas elétricas se distinguem pelo fato de operarem com um motor elétrico alimentado por uma bateria recarregável em vez de um motor de combustão interna. Essa mudança tecnológica oferece inúmeros benefícios ambientais e econômicos: as emissões de poluentes são significativamente reduzidas, o consumo de combustível fóssil é menor, menos ruído é gerado e a manutenção é menos complexa. No entanto, essas motocicletas enfrentam vários desafios no Brasil, incluindo preços altos, falta de infraestrutura de recarga adequada, alcance limitado da bateria e certa resistência cultural dos consumidores brasileiros.
Em junho de 2024, o Brasil registrou 775 novos registros de motocicletas elétricas, um aumento de 37,4% em relação ao mês anterior. Apesar desse aumento mensal, o total de registros no primeiro semestre do ano foi de 3.550 unidades, marcando uma queda de 18,4% em comparação com o mesmo período do ano passado, quando houve o registro de mais de 4.300 unidades.
Essa queda nos registros anuais não impediu o crescente interesse por alternativas de transporte mais sustentáveis e tecnológicas. As tendências recentes de busca revelam um aumento na demanda por esses veículos. Nos últimos meses, o modelo Watts W125 ganhou popularidade entre os novos compradores, enquanto a Voltz EV1 liderou o mercado de motocicletas usadas. Esses dados refletem uma mudança progressiva nos hábitos de consumo em direção a opções mais ecológicas no Brasil.
Aumento de acidentes envolvendo motocicletas
Lembrando que com o crescimento das vendas de motocicletas, cresce também a preocupação em relação a acidentes envolvendo motociclistas.
De acordo com o Ministério da Saúde, somente em 2023, houve a internação de mais de 1 milhão de pessoas no Brasil, vítimas de sinistros envolvendo motos. Isso representa um aumento de 32% nos últimos dez anos. O problema está claro, mas a solução não é tão simples e envolve uma série de políticas públicas que precisam ser debatidas e colocadas em funcionamento. E, talvez, dentre os elementos que contribuem para o problema crescer a cada dia esteja a falta de preparo adequado do motociclista. Isso porque 13 estados brasileiros possuem a frota de motocicletas maior do que o número de habilitados na categoria A.
Foto: Apriori para Depositphotos