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Crise, Uber e fraude: o que essas três palavras têm em comum?

Por Felipe Rodrigues

Ver o tamanho do Brasil, imaginar a potência que ele poderia ser e saber que a nação está economicamente destruída causa enorme indignação. Indubitavelmente, a população brasileira encontra-se debruçada em uma das maiores crises da história do País. Indicadores apontam a taxa de desemprego acima de 12%, o que significa um número de, aproximadamente, 13 milhões de pessoas sem trabalho. Diante de um quadro tão alarmante e dependente de meios que garantam, no mínimo, a subsistência, desempregados de todo o Brasil buscam, diuturnamente, novas formas de trabalho.

Visto como solução imediata, o Uber — aplicativo para telefone celular que oferece serviços de transporte de passageiros — chegou ao Brasil em 2014 e se expandiu de maneira assustadora, conseguindo atender grande parte da sociedade, seja como usuária dos serviços ou motorista parceiro. O fenômeno, para muitos, é a única fonte de renda. O último levantamento divulgado pela empresa de tecnologia, em outubro de 2017, apontou mais de 500 mil motoristas parceiros ativos cadastrados no Brasil. O aplicativo realizou uma revolução no mercado automotivo, aqueceu as vendas — em especial, dos veículos que se enquadram dentro dos padrões de aceitabilidade da companhia —, além de demandar outros serviços relacionados ao setor.

Diante da dificuldade de conseguir viabilizar seguros para esses veículos, porquanto os perfis da maioria dos motoristas parceiros não são aceitos pelas seguradoras, as associações de proteção veicular têm sido o único refúgio para esse público. A enorme exposição diária, o desgaste excessivos dos veículos, a necessidade de trabalhar fora dos horários comerciais — haja vista que muitos usuários complementam a renda com a atividade — elevaram muito o índice de roubo de quem trabalha com a Uber. Estudos identificaram que mais da metade dos automóveis roubados no Rio de Janeiro são cadastrados no aplicativo. E não é só no Rio que a situação é grave. Desde o ano passado, o jornal Estado de São Paulo já realizava reportagens sobre o aumento de roubos aos motoristas usuários do aplicativo. O meio de comunicação informou que o alargamento de casos aconteceu depois que o sistema passou a aceitar pagamentos em dinheiro. Normalmente, os assaltantes criam perfis falsos para atrair vítimas e dificultar a identificação.

CRISE FINANCEIRA

Em paralelo, a crise financeira tem aumentado efetivamente o número de fraudes em sinistros no Brasil. A busca pelo dinheiro fácil atrelada à discrepância entre a proposta de valor a ser indenizado pelas companhias e o valor praticado no mercado torna o crime mais atraente. Ainda falando de eventos fraudulentos, após as associações conseguirem se estabilizar e transparecer confiança ao mercado, fraudadores profissionais estão se inserindo nesse segmento e aplicando golpes a fim de receber as indenizações.

De acordo com Gleydson Rodrigues, diretor de uma empresa especializada no combate a fraudes em sinistros, o número de eventos duvidosos é assustador. O especialista, que também é perito judicial, alerta que é preciso analisar minuciosamente caso a caso. “Os fraudadores estão migrando das seguradoras para as associações, visto que nelas não há análise de perfil e dificilmente serão identificados”.

Chega-se, então, ao ponto: a crise, o Uber e a fraude. Como as associações de proteção veicular conseguirão manter a saúde financeira diante de fatos tão alarmantes? H. L. Menckey, crítico e jornalista norte-americano, dizia que para todo problema complexo, existia sempre uma solução simples, elegante e completamente errada. Por conseguinte, pode-se mensurar o tamanho do desafio que os gestores dessas instituições terão pela frente.

MEDIDAS EFICAZES

Assim sendo, é imprescindível que as mútuas adotem medidas eficazes no combate às fraudes e no gerenciamento de risco dos veículos cadastrados em aplicativos de transporte de passageiros. Em primeira instância, o uso de equipamentos de rastreamentos em automóveis têm apresentado ótimos resultados, pois auxiliam na recuperação e na diagnose do cliente. Ademais, devido ao avanço da tecnologia, inúmeros recursos são disponibilizados por esses sistemas, com custos mais acessíveis. É possível bloquear um carro que foi roubado, mapear áreas de risco e traçar perfis dos usuários.

Não obstante, só o uso de recursos tecnológicos não resolve o problema. É fundamental um maior investimento nos profissionais de análise e auditorias em sinistros, além da criação de um núcleo de combate aos golpes, que pode ser feito em conjunto com a AAAPV (Agência de Autorregulamentação das Associações de Proteção Veicular e Patrimonial).

O objetivo é centralizar as informações dos praticantes dessas irregularidades e poder excluí-los do corpo associativo. A demonstração de que a empresa analisa criteriosamente os eventos inibe a atuação do fraudador que, comumente, opta por facilidades. Só assim se poderá garantir aos associados um serviço de qualidade, sem deixá-los expostos às intempéries da instabilidade financeira da associação, as quais resultam em rateios maiores e atrasos nas indenizações.