Centro expandido respondia por 15% do total de roubos da Grande São Paulo 2008, em 2017 essa participação caiu para 6,9%
Por Agência ESTADO
Com números em queda nos últimos três anos, os roubos de carro migraram do centro expandido da capital paulista para a periferia de São Paulo e para cidades da região metropolitana. O Estado analisou mais de 419 mil registros feitos nos últimos dez anos para traçar o comportamento desse tipo de delito, apontado por especialistas e autoridades da segurança pública como um dos que mais preocupam.
O centro expandido, considerando as estatísticas de 2008, respondia por 15% do total de roubos da Grande São Paulo. Foram 5.090 casos naquele ano. Em 2017, essa participação caiu para 6 9% do total, ou 2.972 ocorrências. Já os bairros fora do centro e as cidades vizinhas passaram de 68% do total para 78,6%.
Excluindo casos com motos, caminhões e outros meios que se enquadram nas estatísticas como “roubo de veículos”, o total de roubos de carros no ano passado é maior do que em 2008. Foram 42,6 mil ocorrências em 2017, ante 33,8 mil no primeiro ano da análise.
Porém, comparando as informações com 2014 – último ano com relato de aumento antes do início da atual queda – há redução de 28,6%. Dois motivos principais explicam a redução recente: a adoção de uma legislação mais dura com relação ao comércio de peças usadas, a chamada Lei dos Desmanches (2014), e a implementação do sistema de rastreamento de placas nos radares de trânsito, o Detecta (2015).
O professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) Rafael Alcadipani lembra que eram comuns as encomendas feitas por quadrilhas mirando determinados veículos. “Eles falavam: ‘Estamos precisando de HB20 aqui’. E os criminosos saíam às ruas para cumprir a encomenda, porque tinha essa demanda alta vindo dos desmanches.”
Crescimento
Por outro lado, há os locais em que o cenário piorou. A cidade de Ferraz de Vasconcelos, no leste da região metropolitana, teve 164 registros em 2008. Em 2017, foram 585. Descontando municípios com frotas de veículos muito pequenas, como Pirapora do Bom Jesus, Ferraz de Vasconcelos é a cidade que concentra o maior aumento porcentual, 327%. “Nunca tinha sido roubado. Estava dentro do carro, conferindo documentos de uma cliente, quando um homem chegou, destravou a porta e, armado, nos mandou descer. Ele levou tudo: notebook, tablet, celular, documentos”, diz o advogado Eugênio Almeida Gomes, vítima de um roubo em junho do ano passado na Rua Maria do Rosário, divisa de Ferraz e Poá. “Ali tem muito desmanche.”
“As regiões periféricas ainda estão próximas de desmanches, que estamos combatendo”, admite o delegado Walter Sergio de Abreu, diretor da Divecar (Delegacia de Investigações de Roubos de Veículos) de São Paulo. “Falando em fraudes, os registros feitos para o golpe do seguro também são nessas áreas.”
Regiões
A análise dos dados, lançados em um mapa no portal do Estado, aponta ainda que fatores urbanísticos contribuem para uma maior ou menor incidência desses roubos. O Jardim Campo Grande, na região de Interlagos, é um exemplo. Loteado pela Companhia City e com barreiras de acesso desde 2012, o interior do bairro não teve nenhum caso na última década. “Só tivemos um caso envolvendo carro. Um furto”, diz a presidente do Conseg (Conselho de Segurança) Campo Grande, Luiza Leifert. “Mas instalamos as cancelas mais por causa dos ônibus que traziam fiéis para o santuário do padre Marcelo (Rossi, vizinho ao bairro).”
Pesquisador do NEV (Núcleo de Estudos da Violência) da USP (Universidade de São Paulo), André Zanetic vê um cenário que considera de “contrafluxo” ante outros crimes patrimoniais, como os roubos comuns, que em 2016 atingiram recorde histórico no Estado, com mais de 323 mil relatos. “Há alguma coisa diferente sendo realizada. A crise econômica, que afeta os crimes patrimoniais, não explica tudo.”
Recuperação chega a 87%, segundo secretaria Estadual
A SSP (Secretaria Estadual da Segurança Pública) aponta “significativa mudança” no universo dos roubos de veículos nos últimos dez anos, ao destacar o aumento da frota de carros da região metropolitana de São Paulo. “Portanto, como o manual de interpretação dos dados criminais ofertado pela SSP explica, a melhor forma de comparação a médio e longo prazo é a taxa por 100 mil ou 10 mil veículos”, diz a secretaria, por nota.
“Ao analisarmos as ocorrências, comparando 2017 com 2014, que foi o último ano de alta citado e ano da criação da Lei dos Desmanches”, diz o texto, “31 municípios apresentaram queda nos casos, seis aumentaram e dois permaneceram estáveis. Se fizermos essa conta referente a 2016, 25 cidades tiveram queda nos roubos de veículos, um município não teve variação e 14 tiveram alta”, aponta, citando dados que incluem roubos a motos e caminhões.
O governo destaca que “a taxa de recuperação da região foi de 87% em 2017 sobre o número de veículos roubados” e informa ter fiscalizado 663 desmanches em 2017, 40% mais do que em 2016. “As polícias paulistas agregadas a tecnologia, como o sistema Detecta, atuam constantemente no combate não só aos roubos e furtos de veículos, como também aos crimes contra o patrimônio”, completa a nota oficial.
Foto: Radar Nacional