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Estados falham no envio de dados de sinistros à Senatran e comprometem políticas de segurança no trânsito

Ranking nacional revela que 10 estados estão em atraso com o Renaest; Paraíba e Mato Grosso do Sul lideram em pontualidade.

Por Portal do Trânsito

Para enfrentar o alto número de mortes e sinistros no trânsito brasileiro, não basta apenas intensificar a fiscalização ou investir em infraestrutura. O primeiro passo é ter acesso a dados atualizados, confiáveis e sistematicamente organizados. E é justamente nesse ponto que boa parte dos estados ainda está falhando. Segundo o mais recente ranking divulgado pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), 10 unidades da Federação estão em atraso no envio das informações ao Registro Nacional de Estatísticas e Sinistros de Trânsito (Renaest) — ferramenta essencial para orientar as políticas públicas de segurança viária no país.

A atualização dos dados é responsabilidade de cada Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e outros órgãos executivos de trânsito dos estados e do Distrito Federal. Essas informações são fundamentais para mapear as ocorrências, identificar padrões e planejar ações específicas, baseadas em evidências.

De acordo com o secretário nacional de Trânsito, Adrualdo Catão, a eficiência das políticas públicas está diretamente ligada à qualidade dos dados disponíveis.

“Com dados consistentes e atualizados, decisões importantes passam a se basear em informações reais e atuais. Isso aumenta a efetividade das ações e auxilia na execução das políticas públicas, com impactos diretos na redução de sinistros e de óbitos no trânsito”, destacou.

Paraíba e Mato Grosso do Sul: exemplos de compromisso com a segurança viária

Entre os 17 estados que vêm mantendo o Renaest atualizado nos últimos três meses, destacam-se Paraíba e Mato Grosso do Sul. Ambos aparecem no topo do ranking de pontualidade divulgado pela Senatran. A presença constante desses estados na lista dos que mais se comprometem com o envio de dados demonstra que é possível manter uma cultura de gestão que se oriente por informação, mesmo com as limitações orçamentárias e estruturais que muitos órgãos enfrentam.

Conforme especialistas, essa regularidade no envio permite que as autoridades locais avaliem com mais agilidade os efeitos de medidas como campanhas educativas, alterações na malha viária, fiscalização eletrônica ou mudanças legislativas.

Rio Grande do Norte: três anos sem atualizar dados

Na outra ponta do ranking de dados da Senatran, o Rio Grande do Norte chama a atenção de forma negativa: o estado está há 36 meses — ou três anos — sem enviar dados ao sistema nacional. A omissão compromete não apenas o planejamento local, mas também enfraquece o panorama nacional das estatísticas de trânsito.

Além do Rio Grande do Norte, outros nove estados também constam como inadimplentes no envio dos dados ao Renaest. A Senatran ainda não divulgou a lista exata dos entes em atraso em detalhes. No entanto, a autarquia informa que o objetivo da divulgação periódica do ranking é justamente estimular a regularização por parte dos órgãos estaduais.

Renaest: a base de dados que conecta o Brasil

Lançado como parte da estratégia nacional de segurança no trânsito, o Renaest é integrado a outras bases fundamentais do sistema nacional, como o Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores), o Renach (Registro Nacional de Condutores Habilitados) e o Renainf (Registro Nacional de Infrações). Essa interconexão permite cruzamentos de dados mais precisos e análises mais aprofundadas sobre o comportamento do trânsito brasileiro.

Desde 2024, o sistema passou a contar com uma versão digital em fase de testes, com o objetivo de facilitar o processo de envio e padronização das informações pelos estados.

Falta de dados enviados à Senatran compromete toda a política pública

A ausência de informações atualizadas no Renaest não afeta apenas estatísticas. Sem dados reais sobre a ocorrência de sinistros, as campanhas de conscientização ficam desorientadas. Além disso, a aplicação de recursos perde efetividade e o planejamento de intervenções viárias se baseia em estimativas — e não em fatos. Isso também compromete metas estabelecidas em pactos como o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans). Ele depende de indicadores confiáveis para medir avanços.

A Senatran reitera que continuará publicando trimestralmente o ranking de envio de dados. O objetivo é incentivar a regularização e promover maior transparência no setor. Para os especialistas em mobilidade e segurança viária, essa cobrança é essencial para que o Brasil avance na construção de um trânsito mais seguro, baseado em decisões técnicas e não em achismos.

Foto: Marcio Ferreira/MT