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Grupo de WhatsApp, treinamento, ajuda da polícia: como montadoras estão consertando respiradores

Ao menos 9 marcas participam de força-tarefa centralizada pelo governo federal. Na primeira semana, 6 delas receberam cerca de 160 aparelhos para reparar

 

Por Auto Esporte

 

As linhas de montagem de carros estão paradas. As atenções em algumas fábricas de veículos do Brasil agora se voltaram para máquinas bem diferentes: os respiradores hospitalares.

Chevrolet, Fiat, Ford, Honda, Jaguar Land Rover, Jeep, Renault, Scania e Toyota confirmaram que aderiram a uma recém-criada força-tarefa para o conserto desses equipamentos fundamentais para o tratamento de doentes graves de Covid-19. O trabalho começou no meio desta semana.

O objetivo é reparar cerca de 3 mil aparelhos fora de uso mapeados em todo o Brasil, um número que pode ser ainda maior. Até esta sexta, 6 das 9 marcas que confirmaram participação tinham recebido cerca de 80 respiradores, segundo levantamento do G1.
Nesta segunda, a General Motors atualizou seu número para 91 aparelhos recebidos ao todo, o que eleva a conta geral para cerca de 160 em conserto – a dona da Chevrolet tinha informado 10 até meados da semana passada.

Mas como transformar quem entende de máquina de fazer carros e caminhões em reparador de máquinas hospitalares?

“A base nós temos, que é o conhecimento de eletrônica”, explicou Marcos Túlio Sousa, supervisor de manutenção da Fiat em Betim (MG). “Equipamento industrial e médico possuem o mesmo componente.”

“É muito gratificante conseguir ajudar utilizando aquilo que eu sei fazer. Se conseguisse reparar 1, para mim já teria valido todo o trabalho”, descreve Sousa.
Ao embasamento técnico foi agregado um treinamento específico – e virtual, é claro – com especialistas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e da Associação Brasileira de Engenharia Clínica (Abeclin).

Além disso, as experiências são trocadas diariamente em uma rede de compartilhamento de informações por mensagens de WhatsApp formada por técnicos, profissionais de saúde e outras empresas, como as de transporte e de certificação dos aparelhos.

E não é um apertar de parafuso: o tempo entre receber cada respirador e devolvê-lo, consertado, se possível, e certificado, é de pelo menos 3 dias.

Antes de qualquer contato com os técnicos, os respiradores passam por uma espécie de “quarentena”, ficando isolados por 24 dias, informou a Toyota. Os especialistas também trabalham protegidos com luvas, máscaras e óculos.

Os primeiros desafios

Dezesseis respiradores vindos de hospitais de MG chegaram às mãos de Sousa nesta primeira semana, cheia de desafios: alguns, parados há mais tempo, nem têm um histórico para se saber qual é o defeito.

Apenas dois estavam em testes finais até a última sexta (3), quando ele conversou com o G1.

Sousa e os oito técnicos que participam dessa ação pela Fiat se depararam com situações mais simples, como um aparelho em que aparentemente bastou trocar a bateria, até outra que ainda permanecia um mistério.

“Ontem, dois técnicos ficaram com o respirador das 6h às 15h e não conseguiram identificar o problema. Vão continuar amanhã (sábado)”, contou o supervisor da Fiat.

Quando a questão envolve reposição de peças, algumas podem ser feitas com impressora 3D, explica Sousa. A troca de mensagens com os demais participantes também ajuda a ganhar tempo: “Conseguimos em 20 minutos o manual de um equipamento, graças ao grupo”, destacou.

Depois do reparo, é preciso testar o aparelho por cerca de 12 horas, para se ter certeza de que ele funciona dentro de todos os parâmetros necessários.

De onde vêm os respiradores?

Quem centraliza a operação é o Ministério da Economia, explicou Leonardo Amaral, responsável pela coordenação na Fiat.

O governo federal informou as secretarias de estado sobre a iniciativa, e elas enviaram um ofício que explica o procedimento para cada unidade de saúde.

Os pedidos são chegam por e-mail ao Ministério da Economia, que distribui as demandas entre as fábricas, respeitado a ordem de chegada das solicitações, disse Amaral.

Os aparelhos de MG são distribuídos entre a Fiat e o Senai. Quem transporta esses respiradores são empresas de logística e outras que contribuem na força-tarefa. Às vezes, o próprio hospital.

“Nossa expectativa era de receber mais 50 aparelhos na semana que vem. Mas, agora, entendo que o número vai aumentar porque a polícia de MG está autorizada a retirar esses equipamentos também”, afirmou Marcos Sousa, supervisor de manutenção da montadora.
Na última quinta (2), o comandante-geral da Polícia Militar do estado disse que a meta era arrecadar respiradores em mais de 1,3 mil pontos em 24 horas.

Assim como a Fiat, que também faz o mesmo trabalho em Pernambuco, as demais fabricantes de veículos que anunciaram participação na iniciativa atendem unidades de saúde onde têm produção: os estados da Bahia, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.

160 em conserto

O G1 procurou as 9 marcas na última sexta para saber quantos aparelhos elas receberam nesta primeira semana da força-tarefa. Cinco delas tinham cerca de 70 respiradores para consertar.

A General Motors, dona da Chevrolet, disse ao G1 que iria disponibilizar todas as suas fábricas para a ação. Ela não respondeu ao questionamento da sexta, mas havia informado ao SPTV, em meados da semana, que tinha recebido 10.

Nesta segunda (6), a empresa informou que já possui 91 respiradores para conserto, o que eleva o número geral de aparelhos que estão com montadoras para cerca de 160. Desses, 37 deverão ser entregues para uso nos próximos dias, disse a GM.

Além dos 16 aparelhos que estão em Betim, a Fiat e a Jeep, que fazem parte do mesmo grupo, têm outros 15 em Pernambuco, vindos da Paraíba – a empresa atenderá também a este estado.

A Honda recebeu cerca de 20 respiradores em sua fábrica de Sumaré (SP) e 1 já estava em fase de testes nesta sexta para voltar a ser usado. A empresa destacou aproximadamente 30 funcionários, entre engenheiros e técnicos, para a tarefa.

A mesma quantidade de pessoas está trabalhando em instalações construídas em um ginásio esportivo da Scania, fabricante de caminhões, em São Bernardo do Campo (SP), para consertar os respiradores.

A primeira remessa, com 22 equipamentos, foi retirada de forma voluntária de um hospital de São Paulo. Nesta sexta, a empresa recebeu outros 15, vindos da Baixada Santista.

A Toyota recebeu os primeiros 3 respiradores na última quinta e eles ainda passam pela “quarentena”. Doze técnicos vão atuar nos reparos, que serão feitos na unidade de Sorocaba (SP).

No Paraná, a Renault treinou 4 funcionários para trabalharem na manutenção dos respiradores. A empresa afirma que os equipamentos serão enviados primeiramente para o Senai de Maringá. Lá, será feita uma triagem, para, então, serem repassados para a fabricante.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) informou que existem, ao todo, 25 pontos de manutenção, dos quais 10 são unidades do Senai e 15 estão em unidades das montadoras citadas na reportagem e também da ArcerlorMittal e da Vale.

Esses “pontos da iniciativa + manutenção de respiradores” estão em 13 estados: Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte , Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.

 

Foto: Divulgação