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No Rio, quase 30% dos carros roubados não são recuperados

Por Rafael Soares, do EXTRA

Como mora numa vila sem garagem, o analista de sistemas Wagner Rosa dos Santos, de 39 anos, precisa diariamente procurar uma vaga próxima para parar o carro ao voltar do trabalho. No dia 18 de maio, o morador de Vila Isabel só conseguiu estacionar a dois quarteirões de casa, na Rua Artidoro da Costa, e aproveitou a noite sem compromissos para dar uma geral no veículo. Às 21h, prestes a acabar a limpeza, Wagner foi surpreendido por dois homens. Um deles o abraçou por trás e encostou uma pistola em sua barriga. Na manhã seguinte, dez horas depois, o Livina prata de Wagner foi recuperado pela PM numa blitz a 5km dali, na Avenida Dom Hélder Câmara, em Todos os Santos. Os criminosos não foram presos.

Quando foi recuperado, o carro estava sujo de terra, repleto de latas de cerveja em seu interior e com a lataria arranhada. Mas, mesmo assim, Wagner pode se considerar um sortudo: um levantamento inédito feito pelo EXTRA, com base em microdados do Instituto de Segurança Pública, revela que, de 2014 a 2017, 28% dos carros roubados no estado do Rio de Janeiro nunca foram recuperados pela polícia.

— Além de ter sido um susto enorme, esse roubo me causou problemas, porque complemento minha renda trabalhando como motorista de Uber nos fins de semana. Só voltei a rodar um mês depois — conta Wagner.

E a diferença entre carros roubados e recuperados vem aumentando. Enquanto em 2014 houve 7.242 roubos a mais do que recuperações, em 2017 foram 16.736 roubos a mais.

A história do roubo sofrido por Wagner é emblemática. Tanto a região onde ele foi roubado quanto aquela em que o carro foi recuperado tiveram, nos últimos quatro anos, uma explosão de registros de roubos e recuperações de veículos. A área da 20ª DP (Vila Isabel), que cobre a rua onde o analista de sistemas foi abordado, registrou o oitavo maior aumento de casos de roubos de carros entre todas as delegacias da Região Metropolitana: foram 187 ocorrências em 2014 e 493 em 2017 — um aumento de 163%.

Já a região da 26ª DP (Todos os Santos) vem sendo cada vez mais usada pelos assaltantes como ponto de abandono de veículos roubados: de 2014 a 2017, o número de recuperações aumentou 375% na área, o segundo maior aumento entre as delegacias do Grande Rio.

Concentração de casos

O levantamento feito pelo EXTRA também revela que, das dez áreas em que foi registrado maior número de roubos de carros entre 2014 e 2017, sete também estão na lista das dez regiões com maior quantidade de registros de recuperação de carros no período.

As duas primeiras colocadas no ranking de roubos de carros ficam na Baixada Fluminense: a 64ª DP (Vilar dos Teles), com 9.540 ocorrências, e a 59ª DP (Duque de Caxias), onde 7.399 casos foram registrados. Completam a lista mais uma delegacia da Baixada, quatro da Zona Norte, uma da Zona Oeste e duas de São Gonçalo.

A região que tem a maior concentração de carros recuperados é a coberta pela 39ª DP (Pavuna): entre 2014 e 2017, foram registrados na unidade 7.235 encontros de veículos roubados. A quantidade é maior do que os 5.464 roubos registrados no mesmo período na delegacia — a quinta com mais crimes desse tipo.

Horários

O horário que concentra o maior número de ocorrências de roubos de veículos é entre 18h e meia-noite: 49% dos 159 mil casos registrados entre 2014 e 2017 aconteceram durante a noite.

Já as recuperações de veículos acontecem entre 6h e meio-dia: 39% dos encontros de carros roubados aconteceram pela manhã. O horário que concentra a maior quantidade de ocorrências é 7h: 17.983 casos aconteceram nesse horário, de acordo com a Polícia Civil.

Em 2017, foram registrados 54.366 roubos de carros no estado. O número é 30% maior do que o registrado em 2016.

Foto: Domingos Peixoto