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Número de roubos de carros dispara em 2017 e assusta população de Caxias do Sul

Entre 28 de maio e 8 de junho foram registrados na Polícia Civil pelo menos 17 roubos de veículo na cidade. Polícia Civil aponta articulação que está incentivando roubos

Por Jornal Pioneiro

Uma idosa que pretendia visitar a filha. Um estudante de Direito que dava carona para a namorada. Um eletricista encerrando mais um dia de trabalho. Uma professora prestes a receber as boas vindas dos alunos na porta da escola. Em comum, todas essas pessoas foram vítimas de ladrões de carro nas duas últimas semanas. O levantamento feito em parceria pela reportagem do Pioneiro e da Rádio Gaúcha Serra apresenta um recorte de um crime que mais cresce e assusta a população de Caxias do Sul.

Entre 28 de maio e 8 de junho foram registrados na Polícia Civil pelo menos 17 roubos de veículo. Chama a atenção que a maioria dos criminosos aproveitaram para agir no momento em que as vítimas estavam os carros na chegada ou saída de casa. O número de ataques no período, no entanto, pode ser bem maior, pois a reportagem não teve acesso a todas as ocorrências. Nos primeiros cinco meses do ano, ladrões roubaram 397 veículos na cidade – média de cinco assaltos a cada dois dias. É um número superior ao registrado no mesmo período de 2016: quatro casos a cada dois dias.

Polícia Civil aponta articulação criminosa

A Polícia Civil identificou que a onda de roubos é estimulada por uma articulação criminosa que disseminou entre assaltantes, por meio de conversas em bares e pontos de tráfico, que está comprando carros roubados. Essa aliança criminosa aceita negociar com qualquer criminoso e não faz exigências. O único detalhe é que pagam pouco pelos automóveis.

— Eles deflacionaram o mercado ilegal. Um carro clonado que antes custava R$ 4 mil, agora é negociado a menos de R$ 1,5 mil. Para monopolizar este “mercado”, eles buscaram a mão de obra mais barata: qualquer um. O resultado é que qualquer delinquente está virando ladrão de carro. Quem era especialista está fora do mercado, pois não aceita ganhar pouco pelo serviço — analisa o delegado Mário Mombach, chefe da Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec).

A estratégia afeta diretamente a população: aquele assaltante que antes roubava um carro por semana para ganhar R$ 1 mil, agora precisa cometer três ou quatro assaltos para ter o mesmo “lucro”. A maioria dos veículos é clonada de forma grosseira e vendidos a preços baixos.O delegado Mombach acredita que esta associação criminosa surgiu após Operação Macchina Nostra, deflagrada pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) em março, que desarticulou uma quadrilha que participou, direta ou indiretamente, do roubo de aproximadamente 1,5 mil veículos no Estado desde outubro de 2015. Um dos líderes daquela organização foi preso em Caxias do Sul.

— Surgiu uma deficiência no mercado negro de produção que esta articulação está preenchendo em Caxias do Sul. O roubo é uma necessidade deste mercado desde que as chaves codificadas dificultaram o furto de veículos — explica.

Ao contrário de quadrilhas anteriores que enviavam seus “produtos” para outras regiões ou estados, como Paraná e Mato Grosso do Sul, a aliança negocia os carros na própria Serra. Um efeito colateral desta atuação é o aumento no número de prisões por receptação realizados pela Brigada Militar (BM). Entre 31 de maio e 6 de junho, por exemplo, foram 10 detidos em flagrante.

— É um crime que nos preocupa porque é a mão armada e pode facilmente virar um latrocínio. Estamos mobilizados e conseguimos diversas prisões — aponta o major Jorge Emerson Ribas, comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM).

*Colaborou Suelen Mapelli e Adriano Duarte

ROUBOS DE CARRO

Compare o total de registros de janeiro a maio de cada ano:

2016
Janeiro: 53
Fevereiro: 52
Março: 59
Abril: 80
Maio: 96
Total: 304 (média de quatro roubos a cada dois dias).

2017
Janeiro: 73
Fevereiro: 70
Março: 95
Abril: 68
Maio: 91
Total: 397 roubos (média é de cinco roubos a cada dois dias)

Foto: Reprodução / Reprodução