Conforme a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado – Abegás, o Brasil tem mais de 1, 6 milhão de veículos circulando com Gás Natural Veicular – GNV
Por Portal do Trânsito
Só nos primeiros seis meses deste ano, o número de veículos que migraram para Gás Natural Veicular (GNV) subiu 6,54% em comparação ao mesmo semestre em 2021, registrando alta no período pelo segundo ano consecutivo no Brasil, conforme dados do Ministério da Infraestrutura. Em comparação ao mesmo semestre de 2020, a alta é ainda maior, de 56,7%, sendo o Rio de Janeiro o estado com maior número de carros circulando com GNV.
No entanto, para ser seguro, é preciso passar por inspeção veicular obrigatória. Mesmo sabendo disso, menos de 30% da frota está com a documentação regular.
Importância do Certificado de Segurança Veicular
Nesse ínterim, o que preocupa os especialistas em segurança veicular é o fato de que 72% desses carros circulam irregularmente, sem estar com a documentação em dia.
De acordo com levantamento realizado pela Federação Nacional da Inspeção Veicular – FENIVE, com base nos números da Secretaria Nacional de Trânsito – Senatran, até o último mês de junho, a frota registrada de carros com GNV no Brasil era de 2.643.755 veículos.
Em compensação, destes, apenas 28% possuem o Certificado de Segurança Veicular (CSV) atualizado – documento exigido pela legislação para que os veículos movidos a GNV possam ter o seu licenciamento anual. Ou seja, apenas os 739.537 veículos movidos a GNV que passaram pela inspeção periódica poderiam estar em circulação, se a legislação estivesse sendo cumprida no país.
Além disso, registros das pesquisas feitas pelo aplicativo GNV Legal, que tem como banco de dados os organismos de inspeção veicular do Brasil, mostrou que de 39.954 veículos analisados em 2022 durante abastecimentos em postos de combustível, menos da metade (41,18%) estava com a inspeção veicular em dia. Os demais, 41,01% estavam com a inspeção vencida e 17,80% sequer tinham passado por inspeção veicular.
Falta de fiscalização aumenta número de acidentes
Na opinião do diretor executivo da FENIVE, Daniel Bassoli, esse tipo de cenário de irregularidades, somado à falta de fiscalização por parte das autoridades, expõe a população a risco e coloca o sistema em xeque quando ocorrem episódios como o que resultou na morte de um senhor de 67 anos, no final do mês de julho, em um posto de combustíveis na cidade do Rio de Janeiro, em que o cilindro de GNV do carro estourou, atingindo o motorista e deixando feridas outras pessoas no local.
As análises preliminares apontaram que o cilindro que estourou teria sido retirado de um veículo que havia sido roubado em 2016.
“O interior do cilindro mostrava sinais de ter passado por incêndio, foi repintado, adulterado e instalado no veículo. Mas não é possível afirmar se o proprietário do veículo sabia disto. É preciso aguardar o resultado da perícia para outras conclusões”, comenta o diretor.
A mesma situação aconteceu, em menos de uma semana, em outro posto de combustível, também no Rio de Janeiro.
Nesse caso, o veículo estava irregular, pois nunca havia passado por inspeção. Além disso, o cilindro não tinha condições de uso devido ao estado precário de conservação.
A FENIVE ressalta, ainda, que a cidade do Rio de Janeiro conta com a Lei municipal 7.024/2021. Ela prevê verificação do selo GNV para que o veículo seja abastecido. Apesar de estar em vigor, tudo indica que não houve cumprimento da legislação pelos estabelecimentos onde ocorreram os sinistros.
Bassoli aponta, também, que o sistema GNV é seguro, porém existem procedimentos que são obrigatórios, tanto na instalação quanto na manutenção. “A inspeção veicular periódica é uma das exigências legais para que o carro que passou pela conversão possa circular regularmente”, reforça.
Autorização
Em geral, o GNV é instalado nos veículos através de um processo simples de modificação veicular: o cidadão solicita autorização prévia ao Detran, realiza a instalação do kit em oficina homologada pelo Inmetro, para então realizar a inspeção veicular em empresas acreditadas pelo Inmetro e licenciadas pela Senatran (ITL – Instituição Técnica Licenciada).
Após a aprovação na inspeção, o veículo recebe o certificado de segurança veicular (CSV) e o selo GNV, para então ser regularizado no Detran. Depois disso, o órgão inclui o combustível no documento. Todos os anos, os veículos com GNV devem passar por inspeção periódica para verificação do sistema GNV e demais sistemas de segurança do veículo. Quando aprovado, o proprietário do veículo recebe um novo selo GNV, de porte obrigatório. A cada cinco anos o cilindro deve passar por um processo de requalificação para avaliação das suas características mecânicas.
Padrões de Segurança
Com a conversão para GNV, o veículo passa por um processo de alteração de suas características de fábrica, daí a necessidade de um novo CRV. Bassoli alerta que, para que esse processo de conversão para gás natural veicular ocorra de forma adequada, o proprietário do veículo precisa estar atento a três questões. São elas: exigir produtos certificados pelo INMETRO; somente contratar oficinas registradas para a conversão e submeter o veículo a um organismo de inspeção veicular acreditado pelo INMETRO, para verificação de segurança. “O selo GNV é uma forma de evitar a utilização de produtos sucateados, ou a execução do serviço por pessoas não habilitadas e ainda proporciona a rastreabilidade e a segurança ao dono do veículo”, explica.
Tecnologia proposta
Para solucionar o problema da frota irregular e evitar que a fiscalização no momento do abastecimento de carros com GNV fique sob a responsabilidade de pessoas não habilitadas, a FENIVE tem apresentado ao INMETRO, desde 2019, a proposta de desenvolvimento de um software, através de um termo de cooperação técnica. Ele faria a vinculação do cilindro de GNV ao veículo.
O objetivo é gerar um banco de dados unificado. Dessa forma, qualquer carro que esteja fora dos padrões de conformidade que a legislação exige seria impedido de abastecer com o GNV. Assim sendo, restringiria a circulação de irregulares. “A Federação, inclusive, se propôs a fazer a doação do sistema, sem custo algum para o INMETRO. Isso porque o objetivo é promover a segurança no trânsito. Assim, facilitando o rastreamento desses veículos e impedindo a instalação e o abastecimento de carros que estejam equipados com cilindros comprometidos e que já deveriam ter sido descartados”, esclarece o diretor executivo da FENIVE, Daniel Bassoli.
Além disso, outra forma de garantir a segurança e evitar as instalações irregulares são as leis estaduais e municipais, acrescenta.
De acordo com ele, em alguns estados do país existem leis que só permitem que os postos de combustível façam o abastecimento dos veículos depois de o motorista apresentar o selo GNV. Ou seja, o documento que atesta que o veículo passou por inspeção e está em condições de trafegar em segurança.
Este é o caso de estados como o Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Goiás, que já contam com legislações específicas, que exigem que o motorista comprove o Selo GNV para abastecer o veículo.
Objetivos do Selo GNV
- Comprovar que a instalação do sistema GNV ocorreu dentro das normas e regulamentos, que é seguro e, ainda, que o veículo se encontra em condições de segurança;
- Comprovar a certificação pelo INMETRO dos componentes do sistema e que a oficina instaladora tem registro no INMETRO;
- Evitar o uso de cilindros com testes vencidos (mais de 5 anos) ou o reaproveitamento de cilindros sucateados em instalações clandestinas;
- Evitar a instalação clandestina nos carros e ou a manipulação de sistemas GNV por pessoas não habilitadas.
Benefícios em carros com GNV
O diretor executivo da FENIVE, Daniel Bassoli, destaca ainda que o GNV é combustível limpo. Além disso, ele pode representar até 40% de economia de dinheiro em relação aos combustíveis líquidos, dependendo do motor, uso e preço dos combustíveis.
“Os sistemas modernos proporcionam bom desempenho do motor, com economia e segurança. Os componentes são certificados pelo INMETRO e passam por rigorosos testes de confiabilidade. Cilindros de GNV em carros, por exemplo, podem ser alvejados por projéteis de fuzil, sem estourar. E, também, suportam pressões muito maiores que aquelas do abastecimento”, afirma Bassoli.
Por fim, ele reforça que não há estatísticas oficiais de sinistros envolvendo veículos com GNV instalado. No entanto, só no Rio de Janeiro ocorreram pelo menos dez acidentes entre 2016 e 2019. Houve outros acidentes em Maceió e Fortaleza, em 2020. Os acidentes ocorreram com veículos irregulares, com cilindros sem condições de uso.
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil